segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Pé pra lá, pé pra cá


Pé pra lá,
pé pra cá,
os pés me levam
pra onde eu quiser.
Segue em
frente,
recua, às vezes,
até em marcha ré.
Também gira
para um lado,
depois outro,
no vibrante
caminhar.
Cansa, que
não é de ferro,
e pede tempo
para repouso.
Sempre os pés.
33, 36, 39, 42...,
seja qual
tamanho for,
impulsionam
o corpo no
passo lento,
na corrida,
no parque,
na dança,
jogando bola,
na rua, em casa,
na praia,
em todo lugar.
Os pés sempre
me levam...
Discretos ou
deixando marcas.

Foto: Flickr


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Longe de Casa


A mudança de um sobrinho e afilhado para São Paulo onde foi trabalhar, por opção, me leva ao passado. Sem alternativa de continuar os estudos na cidade onde nasci - e vivi até a adolescência -, deixei a família para me aventurar na cidade grande, Salvador, onde estive poucas vezes antes.

Hoje a internet e o celular encurtam a distância entre pessoas queridas. Quando saí de Itapetinga para fazer o pré-vestibular em Salvador, a história era outra. Nem telefone fixo a gente tinha em casa. Só existia a opção da carta. Escrevia e passava ao Correio a tarefa de enviar e trazer as notícias. E como demorava, dez, 15 dias...

Na capital, tudo novidade. Até o transporte coletivo significava um desafio: aguardar no ponto, disputar espaço no acesso e ficar parecendo sardinha prensada no interior do ônibus. Nesses momentos, cresciam as lembranças da pequena cidade, onde bastava disposição para ir à escola, ao cinema, ao clube, à biblioteca, ao passeio na praça. Tudo andando, sem queixas.

Com 19 anos, outra dificuldade foi morar em pensionato e gerenciar a vida. Não era fácil matricular em cursinho, lavar roupa, passar ferro, fazer inscrição no vestibular, administrar o dinheiro curto para a despesa do mês. Mesmo assim, nada de desistir. A prioridade era estudar, estudar muito, para não fazer feio na hora de enfrentar a concorrência e, finalmente, ingressar na Ufba.

Quando o pensionato enchia a paciência, a gente reunia um grupo de estudantes, alugava um "ap" e formava uma república da "Luluzinha". Aí, sobrava liberdade, mas faltavam entendimento, organização, respeito ao direito do outro. Recordo-me de Rose que acendia a luz do quarto mesmo se alguém já estivesse dormindo. Agora, se ela pegasse no sono e uma amiga fizesse isso, reclamava. E como! (Foto: Regis Capibaribe)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Crime de leso-lugar

O texto abaixo é de Dad Squarisi, do Blog da Ded, editado no site do Correio Braziliense. Formada em Letras pela UnB, ela tem Especialização em Lingüística e Mestrado em Teoria da Literatura. No post, a autora tira dúvidas quanto ao uso das expressões Onde e Aonde. Recomendo a leitura.

"Eu tenho vergonha do meu país, aonde existe cadastro de carros roubados e não existe de pessoas desaparecidas." Com a frase, a tevê anuncia reportagem pra lá de explosiva. Chama-se Dossiê Desaparecidos. Homens, mulheres e crianças somem. Como fumaça, desmancham no ar. Ninguém sabe. Ninguém viu.

A chamada atrai telespectadores. Mas causa estranheza. A pulga atrás da orelha não tem a ver com o tema. Relaciona-se à língua. Mais precisamente ao emprego do aonde. O trissílabo tem vez na frase? Não. O pronome rouba com frequência o lugar do onde. Ninguém sabe por quê. O crime de leso-lugar contraria a lei do menor esforço que impera no português nosso de todos os dias. Por comodismo, preferimos o menor ao maior.

Cada macaco no seu galho

Onde ou aonde? Em geral onde. Aonde só ganha banda de música e tapete vermelho se preencher uma condição — acompanhar verbos de movimento que exijem a preposição a. É o caso de ir e dirigir-se. Ambos são adversários do sedentarismo e pedem o azinho:

Quem vai vai a algum lugar: Dilma Rousseff vai a Copenhague. Aonde Dilma Rousseff vai? Gostaria de saber aonde Dilma Rousseff vai. Você sabe aonde Dilma Roussef vai?

Quem se dirige se dirige a algum lugar: Rafael se dirigiu à secretaria. Aonde Rafael se dirigiu? Descubra aonde Rafael se dirigiu. Será que ele sabe aonde Rafael se dirigiu?

Olho vivo!

O aonde só tem vez se preencher as duas condições. Uma só não vale. Veja o exemplo de assistir. Quem assiste assiste a uma coisa. O trissílabo pede o a. Mas não indica movimento. Xô, aonde! Vem, onde: Onde você assistiu ao programa? Queria que me informasse onde você assistiu ao programa. Você descobriu onde ele assistiu ao programa?

Andar indica movimento. Mas não aceita a preposição a. Quem anda anda por algum lugar: Por onde você andou? Pode me dizer por onde você andou? Exijo que me diga por onde você andou. Por que você se recusa a informar por onde andou?

Vítima preferencial

Estar e morar são vítimas preferenciais dos impiedosos falantes. Eles não indicam movimento nem exigem a preposição a. Mas obrigam-nos a carregar o aonde. A torto e a direito a gente escuta "Aonde você está?" "Aonde você mora?" É a receita do cruz-credo. Para não aviá-la, seja esperto. Dê a vez ao onde: Onde você está? Onde você mora? Esteja onde estiver, lembre-se do recado.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Criança

Rua, rua, rua,
pula, pula, pula,
salta o peralta
que vive em
cada criança

Joga a gude,
chuta a bola,
esconde-esconde,
dá cambalhota
ou rola no chão.

Toda hora é hora
de sorrir e brincar,
boneca ou peteca,
não importa, se é
menino ou menina.

Garota vira mãe,
garoto vira doutor,
usam a fantasia
em casa ou na rua
sim senhor.


Imagem: Dreamstime.com