quinta-feira, 29 de abril de 2010

Boneca de louça

 
Como era bom aquele tempo! A vida fluia leve sem preocupação. Correr atrás da bola, jogar gude, brincar de boneca, subir na mangueira e escorregar... Tempo de criança é assim. Tudo se transforma em motivo para brincar, soltar o riso, escancarar felicidade, mesmo que por um segundo, apenas um "segundinho".

Brinquedo comprado em loja era coisa rara. Na fazenda, a boneca de pano tinha espaço carinhoso. De colo em colo, se transformava num bebê que as meninas, no papel de mamães, adoravam. Era banho de mentirinha, comida de mentirinha, amamentação de mentirinha, soneca de mentirinha...

Num distante Natal, a garota do meio ganhou uma boneca de louça, daquelas de cabelo que pente nenhum desembaraça. O presente da irmã caçula foi uma bonequinha, de cabelo igualzinho. Uma virou "mãe". A outra, filha. Um certo dia, para tristeza, a boneca maior, Lili, apareceu sem o pé.

Foi muito triste. Ver Lili mancando era um sofrimento sem igual. No universo fértil da infância, ela imaginava a dor que o brinquedo sentia. Tudo ficou mais grave porque o pé sumiu e agora era impossível livrar a boneca desse tormento.

Mesmo assim, cuidou de Lili. Levava para todo canto. Sabe o que aconteceu?  Um dia, quando tomava banho no Rio Pardo, viu algo brilhante boiando pertinho. Ficou na maior alegria. Era o pezinho da boneca. Mas aí apareceu um peixe grande e engoliu o pé de Lili. Sua primeira boneca de louça ficou manca para sempre. (Foto: Flickr)

domingo, 11 de abril de 2010

Perto de mim


 Longe de todos, 
perto de mim, 
recolho
os fragmentos 
de saudade
e anseios.
Infância traz 
a nostagia
do ontem 
bem distante,
que volta só
em pensamentos.
São retalhos
no mosaico
 que nutre a alma,
tão perto de mim,
longe de todos.
 
Foto: Flickr





quinta-feira, 8 de abril de 2010

Luz e som


Luz e som
na mais escura
das noites.
Natureza
mágica risca
o céu sem
estrelas.
São raios,
são trovões
cadenciados.
Iluminam,
estrondam
rojões numa
festa que
invade a
madrugada
e desperta
o novo dia,
seguindo
o maestro
tempo.

Foto: Flickr



quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vazio

Sem ideia
deparo-me
com vontade
de escrever.
Fazer o que?
Na tela branca
contemplo
o vazio.
Suor escorre
pela face
nesse jogo
das palavras
que insistem
em se esconder.
Em algum canto,
nas sei onde,
os pensamentos
vão e voltam
como ondas
no movimento
natural de
subir, descer,
para de novo
se transformar
em grandioso
volume de
água beijando
a areia.
As palavras
surgem agora
e brotam na tela
desenhando
formas
no exercício da
criação,
na entrega que
torna possível
expressar uma
composição.

Foto: Flickr