domingo, 19 de fevereiro de 2017

Na face uma lágrima...




Bem cedo ela já está no ponto. Todo dia é assim na vida de Cremilda. Salta da cama antes do galo cantar, lá pelas bandas do Subúrbio Ferroviário de Salvador. Precisa pegar o ônibus logo para não chegar atrasada ao trabalho, às sete.

O ritual é rápido. Água no rosto, poucos goles de café, roupa surrada. Sem um beijo no filho de nove meses, sai quase voando para não perder o ônibus que deixa o bairro antes das seis. Acha um lugar e senta.

Cinco minutos após, o velho coletivo dá a partida. Sacoleja pra lá, sacoleja prá cá. No embalo, Cremilda cochila. Compensa a noite mal dormida, cheia de preocupações com o marido desempregado e o futuro do bebê. Até o bairro da Graça, onde trabalha, normalmente a viagem dura mais de uma hora.



Nunca a doméstica chega depois do horário combinado. Naquela última quinta-feira de agosto não dá para marcar o ponto. Ainda na Suburbana, o pneu traseiro direito do ônibus fura. E o motorista põe o pé no freio. A jovem, que sonhava amamentando o filho, acorda assustada e percebe a situação.

O socorro mecânico demora e Cremilda se desespera. "Vou levar bronca. Dona Emília não vai acreditar que o pneu do ônibus furou", pensa alto a jovem, 29 anos, que mora de aluguel numa casa de três cômodos. Tenta usar o celular. O aparelho descarregou. Pede emprestado o da vizinha de cadeira. Não tem crédito.

Só às sete e cinquenta o pneu é trocado e a viagem recomeça. Às oito e meia buzina no apartamento do 15º andar. Não tem ninguém na casa da patroa. No dia seguinte, ao chegar pontualmente às sete, conta a história. É demitida. Na face uma lágrima...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Estou grávido, e agora?

Gostei tanto do texto 'Estou grávido, e agora?', assinado por Alberto Souza, que resolvi transcrever para o blog 'Boa Escrita'. Desenvolvedor e instrutor pela empresa Caelum, ele e Larissa são pais de Betinho, uma criança linda, alegre, curiosa e muito esperta. 

Beto (o pai) narra de forma leve, concisa e com palavras simples sua vivência desde quando soube que o casal estava grávido, em setembro de 2015. Betinho, meu sobrinho-neto, nasceu no dia 9 de maio de 2016. Ele completa nove meses na quinta-feira (9) e já tem muita história para ser contada. O texto está publicado no blog Contos de um pai - Experiências do pai de Betinho.

'Estou grávido, e agora?'

Finalmente você e sua parceira(o) engravidaram, então o que era um sonho distante continua um pouco distante, mas só nove meses agora :). Esse é o último período que você tem para refletir sobre sua vida sem ter alguém que necessita de você 24 horas por dia durante um tempo indeterminado.

Quando Larissa (esposa) engravidou, para mim foi como um sonho que começou a virar realidade. Eu sempre quis ter um filho, na verdade queria ter alguns, mas ela barrou meu sonho em no máximo dois. Não posso reclamar, ela sempre foi a ponta madura do relacionamento. Agora que a primeira fase do sonho tinha virado realidade, eu tinha nove meses para me preparar profissionalmente para ser pai.

Quando falo que precisei me preparar profissionalmente, quero dizer ler livros, assistir documentários, procurar por estudos sobre bebês e tudo mais. Essa sempre foi uma característica minha, nunca quis fazer nada na base do “bumba meu boi”. Apesar que boa parte do mundo sempre me falava que na hora que Betinho chegasse, tudo ia se resolver. “Ser pai ou mãe é uma coisa que flui normalmente, não precisa de estudo…”

Posso dizer que para mim, tentar ficar preparado funcionou muito bem. Acho que li uns seis livros sobre o assunto e, entre as várias dicas, as que funcionaram muito bem para mim foram: seja empático, paciente e honesto. Não vai ter jeito, seu filho(a) vai chorar, e vai chorar pelos mais diversos motivos. Ele(a) também vai ficar algumas vezes sem querer comer direito, sem querer dormir e tudo mais. Tudo isso, em escalas diferentes para cada família, é verdade.

Para mim ajudou muito ficar pensando sobre isso durante os nove meses :). Pensei que quando ele chegasse eu precisaria abdicar de parte do meu tempo livre, mudar minha rotina de trabalho, sair menos com os amigos, gostar de outras atividades e tudo mais. Também teve a parte de entender que muita gente ia querer ajudar, os avós principalmente. Imagina você deixar para pensar nisso só quando a criança nascer? Não ia funcionar para mim não.

Meu resumo da ópera é: se está esperando um filho, tente se preparar profissional e mentalmente. Na hora que ele(a) chegar, vai ser tanta emoção que não vai sobrar tanto tempo para essa adaptação. Nasceu, você já precisa estar pelo menos um pouco adaptado. E só lembrando, essa foi a minha experiência :). Caso você tenha chegado aqui no final, deixa seu comentário. Para fechar, meu objetivo é escrever com frequência, Betinho já tem nove meses e muita coisa foi aprendida".