Meio nostálgica rumo em direção ao São João da minha infância. Bastava junho chegar que os preparativos começavam. O rádio de pilha espalhava a voz de Gonzagão pelos quatro cantos da casa. Às vezes, o segundo irmão pegava a sanfona, e ajudava a esquentar o clima festivo, na fazenda contornada pelo Rio Pardo.
Bem antes da adolescência, aos 8 anos, a música junina me convidava a dançar, mesmo no chão sem revestimento, e levantar a poeira. Quando não tinha um parceiro ou parceira (pai, irmão, irmã...), era só pegar uma vassoura de palha e fingir que estava acompanhada: haja arrasta-pé, xote, baião...
Melhor ainda era o 23 do mês, véspera do Dia de São João. Mal o sol se despedia, tinha início a farra. Na nossa casa, ou nas redondezas, ninguém da família ficava sem participar dos festejos. Às vezes era preciso atravessar de canoa o largo rio em busca do forró mais animado.
Licor ou quentão nem pensar para a garotada. Bom mesmo eram os fartos petiscos. Bolos de variados tipos, biscoitos caseiros salgados e doces, pamonha e canjica de milho verde, pernil e franco assados no forno a lenha, laranja... De madrugada a grande sensação era lançar a batata doce na fogueira. Aos poucos a cor da casca mudava, tornando mais escura, sinal de que a raiz estava quase pronta para ser saboreada.
A noite ia embora, o Sol raiava, mas a oito baixos cotinuava atraindo gente para embalar o corpo no salão (ou salinha ou cozinha ou quintal). No São João a vida pulsava no ritmo da sanfona envolvendo, no mesmo clima, crianças, jovens, adultos, pais, filhos, avós, netos. (Foto: Flickr)
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