quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Era uma vez minha máquina de escrever

A primeira vez a gente nunca esquece... Faz uns 15 anos e a experiência permanece viva na memória. O jornal onde eu trabalhava ensaiava os primeiros passos rumo à informatização. Lenta e gradualmente, as velhas máquinas de escrever iam ficando amontoadas enquanto os computadores, cada vez mais, ganhavam espaço na redação.

Eu, com a velha Remington no trabalho - e uma resistente Letera 32, do tempo de faculdade, em casa - entrei em parafuso. Questionava, reunia argumentos, não sei onde, para tentar convencer os colegas do perigo desse caminho. Acreditava que o computador iria isolar uns dos outros, impedir o bate-papo, muitas vezes agradável, entre um toque e outro nas antigas maquininhas.

Resisti o quanto pude, mas fui vencida. Sempre arrumava uma desculpa para não deixar tirar a Remington de perto de mim. Reação parecida só a de um colega da editoria de Esporte, último a aceitar teclar ao invés de datilografar. Eu fui a penúltima, e o momento foi tenso. A ansiedade dominava corpo e alma. Estava nesse clima quando levaram minha máquina. E passei a digitar (catando aqui e acolá) algumas soltas palavras. Produzi pouco e fui para casa.

Aí o drama triplicou. Nunca vivi uma noite tão terrível. Nada ficava no estômago nem no intestino. Expelia a nova situação. Água, chá, nada ajudava a melhorar a agonia. Passei mal, muito mal quase toda a madrugada, até que deitei e me entreguei. Não tinha forças para levantar de novo e, assim, na exaustão, adormeci.

No outro dia, bem no outro dia, amanheci melhor. Inundei o corpo de água, por dentro e por fora. Fiz a limpeza necessária, renovei as energias para aceitar a despedida da máquina de escrever. E rumei para a redação.

No começo nada de internet. Era só digitar, imprimir e encaminhar ao diagramador para dar forma à página. Depois avançou um pouco, e as matérias já seguiam para a outra etapa por meio digital. E assim foi, cada dia uma novidade, até o boom da Internet no Brasil.

Hoje é impossível ficar sem o computador. Só eventualmente lembro da maquininha laranja (a Letera) onde levava horas e horas para elaborar minhas primeiras reportagens. A modernidade me conveceu e venceu.

Ao invés do isolamento que temia com o advento dos computadores, percebo o contrário. É possível ficar tão perto mesmo estando longe do olhar, do tato, do olfato, do gosto, da escuta...Ainda não testei a WebCam... Será que daqui a 15 anos vou dizer: a primeira WebCam a gente nunca esquece?

Um comentário:

  1. Graça,

    Ainda tenho a minha LETTERA 82 verde e no bom estilo portátil, tive outras que fivcaram perdidas nas mudanças ou ficaram estocadas em alguma oficina de conserto.
    Não me desfaço dela nem por um montão de dinheiro. Gosto do toque e do som do tipo imprimindo no papel. Mas o computador é meu sonho de ficção científica e hoje não dá para ficar sem ele. Veja só o que podemos fazer!

    Abraço e bom fim de semana.

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